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Encontro EnCena – Teatro no Presídio de Cataguases MG

Encontro-EnCena-Presidio-Cataguases-Agosto-2022

Projeto do cataguasense Tarcísio Vória, a oficina Encontro EnCena surgiu em 2017, inicialmente com a ideia de compartilhar com outros atores e não atores da cidade, exercícios e vivências absorvidas durante a graduação em interpretação pelo Departamento de Artes Cênicas da Universidade Federal de Ouro Preto. “Aproveitava o período de férias para reunir colegas e pessoas interessadas, dividindo o que vinha aprendendo naquele momento”.

Assista ao vídeo da 1ª edição do Encontro EnCena 2017 – https://youtu.be/uKyRbZcxHoI/.

Ainda na faculdade, sob orientação da professora Lucienne Guedes Fahrer (integrante-fundadora do grupo Teatro da Vertigem SP), Tarcísio desenvolveu uma pesquisa relacionada à encenação em espaços alternativos. O estudo originou a montagem de uma releitura do clássico do Teatro do Absurdo, “Esperando Godot”, do dramaturgo irlandês Samuel Beckett, apresentada em 2019 no aterro sanitário de Ouro Preto/MG pela programação do Festival de Inverno de Ouro Preto e Mariana.

“Na verdade, “Godot” foi o somatório de experiências que iniciaram na minha adolescência, com apresentações em hospitais, asilos, APAES e Centros de Atenção Psicossocial. É na ação democrática do teatro que acredito e me encontro. Fora da caixa, maleável, que se reconstrói em qualquer espaço e para qualquer pessoa”.

Retomando gradativamente suas atividades após o período crítico da pandemia, Tarcísio inicia uma nova fase do Encontro EnCena com o patrocínio da Fundação Bauminas. De julho a dezembro de 2022 o projeto assistirá 10 reeducandos com idade entre 22 e 45 anos, alunos do ensino fundamental no Programa de Educação para Jovens e Adultos, do Núcleo de Ensino e Aprendizagem instalado no Presídio de Cataguases.

“Minha relação com a Fundação Bauminas vem de longa data. Estivemos juntos durante cinco anos de programações culturais. Com essa nova vertente, abrangendo bairros e escolas, penso que a instituição viu no Encontro EnCena uma possibilidade de extensão ainda maior do seu raio de atuação, com o teatro presente também na unidade de ensino do Presídio de Cataguases”.

A metodologia da oficina desta vez também inclui a base do “Teatro do Oprimido”, criado pelo teatrólogo brasileiro Augusto Boal. Trata-se de uma proposta pautada por jogos de preparação que rompem a “parede” que separa platéia e ator. São exercícios cênico-pedagógicos que transformam o espectador em sujeito atuante, incumbido de modificar e também protagonizar a ação dramática que lhe é apresentada.

“Boal ao longo da sua trajetória trabalhou com sertanejos, indígenas, comunidades carentes e também penitenciárias. E seguindo seu legado, o objetivo do Encontro EnCena, de julho a dezembro, é reforçar a ideia de que é possível, sim, exercitar e produzir teatro no ambiente carcerário, de forma horizontal, dialógica, e em uma sala com 16 metros quadrados”.

Diretor Geral do Presídio de Cataguases, Valdinei Camargo é entusiasta do projeto e destaca a importância da atividade. “O teatro dentro do sistema prisional pode ser mais que uma quebra da ociosidade e interação de forma lúdica. Ele tem como principal função transformar vidas”.

O reeducando Julio, de 28 anos, comenta que a participação nas atividades vêm sendo muito satisfatória e com muito aprendizado. “Elas têm me mostrado uma outra forma de ver as coisas”. Já Robson, de 25 anos, disse achar muito interessante: “paramos para refletir coisas que não pensamos muito. Trabalhamos fisicamente e com teoria. Estou muito satisfeito”.

Para a presidente da Fundação Bauminas, Andréia Bissoli, a instituição tem como meta promover a igualdade de direitos e a democratização do acesso à cultura. “Neste ano de 2022 a Fundação está presente de forma ainda mais efetiva, com as pessoas ainda mais próximas e pertencentes aos nossos projetos: nas escolas, praças e demais espaços públicos. Não apenas em Cataguases, mas em diversas regiões do Brasil”.

Foto: Assessoria de Inteligência do Presídio de Cataguases.
Por questão de segurança, os nomes dos reeducandos, nesta matéria, foram substituídos.